20091020

Porque a coleta seletiva continua sendo um desafio

Léo Urbini
Gestor Ambiental
Articulista - Revista ZN


O consumo continua sendo o principal objetivo dos profissionais de marketing e, quando há pouca demanda para um determinado produto, cria-se a “necessidade” e o “desejo”. De fato, ninguém melhor do que os publicitários para fazer um produto ser comprado, independente de sua função, de seu preço, sua qualidade e daquilo que ele representa para a sociedade, querem vender e sequer se importam com a origem do produto

Este é mais um segmento em descompasso com as atuais necessidades desta sociedade de risco. Costumo dizer que a maior produção da economia de mercado é a miséria, as doenças, a falta de escolas, a falta de hospitais e a falta de indivíduos preparados para enfrentar os graves problemas decorrentes desse sistema de produção e consumo. Poderia elencar tantas outras faltas mas não seria útil neste momento, entretanto, não posso deixar de elencar a falta mais grave que é, sem duvida, a falta de preparo dos administradores públicos que compramos com nossos votos e, aqui, mais uma vez, os profissionais de marketing nos enganam e nos iludem com suas mágicas de transformar sapos em príncipes.

Alguns dados sobre o “lixo” no município de São Paulo são suficientes para entendermos por que a coleta seletiva continua sendo um desafio e o que o marketing tem a ver com isso

Das 15 mil toneladas de resíduos coletadas diariamente, apenas 1% é devidamente separado e destinado aos “galpões” instalados pela prefeitura para tal finalidade, bem como , dos 760 milhões do orçamento destinados ao serviço de coleta de “lixo”, apenas 1,5% é destinado à coleta seletiva. Vale ressaltar que desde 2002 a prefeitura de São Paulo vem desativando galpões de diversas cooperativas espalhadas pelo município com o pretexto de maior operacionalidade e, com isso, os números positivos da coleta seletiva retrocedem. Romilda Hadad, representante da ONG Ecos do Vitória é taxativa: “Enquanto a coleta seletiva estiver à cargo da LIMPURB não podemos esperar muita coisa, .há muitos interesses em jogo. O volume do material passível de separação é muito grande, representa mais de 50% do volume total do lixo coletado, mas as dificuldades criadas pelo poder público impedem que tenhamos um aumento significativo no percentual de resíduos separados e adequadamente destinados ”

De fato, um crescimento do número de pessoas que fazem a separação de seus resíduos, , representa um aumento do número de pessoas mais críticas quanto aos produtos que compram, um consumo mais consciente e responsável e isso não interessa àqueles que se dedicam a vender ilusões e facilidades ou àqueles que se beneficiam dos contratos bilionários para fazer a coleta do “lixo”. Romilda Hadad ressalta ainda a disposição das pessoas em participar de programas que tornem seu dia-a-dia melhor e mais saudável e acena com os bairros vivos “as comunidades querem viver melhor e buscam alternativas para isso, são soluções possíveis e sem custo para a administração pública”

O que é de se estranhar é que um programa de coleta seletiva, que envolve conhecimentos próprios à secretaria de Meio Ambiente esteja sob a responsabilidade de um órgão vinculado à Secretaria de Serviços

Das informações disponibilizadas no site da prefeitura sobre coleta seletiva, muitos serviços inexistem ou não correspondem a realidade. Da relação de ruas contempladas pelo serviço de coleta seletiva mais da metade não é atendida, incluindo a minha. Esta não é apenas uma “distração”, as empreiteiras descumprem um contrato ao não prestarem o serviço

Outra afirmação imperdoável neste mesmo site, é a de que o projeto oferece oportunidade as pessoas que estariam à margem desta sociedade.

Na verdade o que acontece é que o poder público se apropriou de um sistema de produção ( trabalho com coleta seletiva ) e o direcionou segundo seus interesses bilionários

Ninguém, em nenhum momento, está à margem da sociedade, esta é uma afirmação leviana , indelicada e irresponsável, além de refletir o desconhecimento sobre cidadania

Na próxima eleição, fique atento aos produtos expostos na prateleira deste supermercado. Veja a data de validade, a origem e, principalmente se a composição deste produto atende suas necessidades como alega o marketeiro que o vende.

Lembre-se: a troca não é garantida antes de quatro anos de uso e reclamações não são aceitas. 

(Procurada para falar sobre o assunto, a Limpurb preferiu não se manifestar sobre o tema)


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sobre meio ambiente na revista da zn, disponíveis aqui!

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