"Maneiras de examinar as funções mentais" Dr. Joubert Barbosa (1942) PERCEPÇÃO Percepção é a faculdade pela qual conhecemos um objeto que, por algumas de suas qualidades, nos causou uma impressão sensorial. É o conhecimento do mundo sensível pelos sentidos. Aproximando-se da sensação, é a percepção, entretanto, o conhecimento mais complexo das coisas, enquanto a sensação seria a consciência amorfa e indiferenciada pela pura presença do objeto. Ver a cor branca é uma sensação; ver a folha de papel branco, é uma percepção (Dunan). Divide-se em: a) Percepção simples: é a sensação representativa que cada sentido pode experimentar por si mesmo, independentemente do concurso de outros sentidos. Temos assim os odores, os sabores, os sons, objetos próprios respectivamente do olfato, do paladar, da audição, etc. b) Percepção composta: é tudo aquilo que um sentido parece perceber fora e além do seu objeto próprio. Alguém pode dizer que ouve um grande sino que toca na vizinhança, tendo assim a percepção conjunta do som, do tamanho e de distância, baseado apenas no som que percebe, som que é objeto próprio do ouvido. As outras percepções (tamanho e distância) foram conseqüências de educação, hábito e associação. A percepção simples, limitando-se a traduzir em linguagem psicológica a ação dos agentes externos sobre os órgãos dos sentidos, está pouco exposta à alteração (ilusões, alucinações, etc.) As percepções compostas, por serem resultados de induções ou associações mais ou menos apressadas, nos expõem mais facilmente ao erro e às falsas interpretações. PATOLOGIA DA PERCEPÇÃO TRANSTORNOS QUANTITATIVOS – Podem resultar de alterações dos órgãos dos sentidos ou de desordem do funcionamento psíquico. No primeiro caso estariam, por exemplo, alterações por lesões do aparelho auditivo. No segundo caso, os transtornos da percepção observados durante as crises maníacas. Hiperpercepção – Caracteriza-se pela multiplicidade e intensidade das impressões recebidas. Coincide, geralmente, com o aumento global da atividade psíquica. Em alguns casos, como nos estados maníacos, síndromes de hipertireoidismo, embriaguez leve, a hiperpercepção se acompanha de euforia. Outras vezes, como em certas neuroses, a capacidade exagerada de ver, ouvir, sentir, constitui um sofrimento para o doente. Hipopercepção – Caracteriza-se pela debilidade e diminuição de impressões. Coincide com o retardamento do ritmo psíquico. Algumas vezes a hipopercepção é tão acentuada que chega ao limite de ausência. Observa-se nos estados confunsionais, psicastênicos, síndromes depressivas, nas fases iniciais da esquizofrenia, etc. Nos casos de histeria é comum os pacientes acusarem diminuição ou ausência de sensibilidade tátil, diminuição de visão, etc. sem que exista propriamente uma perturbação da percepção. TRANSTORNOS QUALITATIVOS – Entre outros distinguimos: Micropsia – É o fenômeno segundo o qual os objetos são percebidos reduzidos em seu tamanho. Observa-se, muitas vezes nas psicoses auto e heterotóxicas. Macropsia – Os objetos parecem bem grandes. Dismegalopsia – Os objetos apresentam partes bastante aumentadas e outras extraordinariamente reduzidas. Multipsia – Percebe-se um objeto multiplicado várias vezes. Discromopsia – As cores proporcionadas pela percepção não coincidem com as do objeto. Ilusão – É uma desordem da percepção em virtude da qual o objeto é deformado. O paciente diz, por exemplo, ver um gato onde existe um coelho. Pode resultar da aplicação insuficiente da atenção ou de intervenção enérgica da afetividade e, finalmente, de influência da imaginação. A pareidolia é uma variedade de ilusão. A exaltação da imaginação dota um objeto qualquer de novos atributos, levando a que seja percebido como outro.
a) Alucinações auditivas – Denomina-se acusma a falsa percepção de ruídos (sibilos, tiros, etc.). Fonema é a falsa percepção de palavras. Estas podem ser de pessoas conhecidas ou desconhecidas, dirigidas ao doente ou não, bem compreensíveis, às vezes, ouvidas apenas por um ouvido ou por ambos ao mesmo tempo. É possível ouvir também várias pessoas simultaneamente. Diz-se que há alucinações bilaterais antagonistas quando, por exemplo, o ouvido direito ouve elogios e o esquerdo, insultos. Consiste o eco do pensamento em “ouvir” o paciente seus próprios pensamentos. b) Alucinações visuais – Denomina-se elementares quando a falsa percepção se refere a sombras ou cores. E diferenciadas se se trata de pessoas ou coisas. Quanto ao conteúdo, as alucinações podem ser zoopsicas (animais) ou antropsicas (homens), etc. c) Alucinações táteis – Podem ser: 1) ativas, quando o paciente acredita que toca em alguma coisa que não existe, observando-se nas psicoses tóxicas e nos delírios místicos; Observam-se, sobretudo, na parafrenia e na psicose alcoólica. d) Alucinações gustativas e olfativas – O doente queixa-se, por exemplo, de que sente veneno na comida ou que puseram remédios para lhe roubar a potência. Observam-se na esquizofrenia e na parafrenia, acompanhando-se, geralmente, de delírio de perseguição e de influência. e) Alucinações cenestésicas – Os pacientes têm sensação de que coisas anormais se passam com seus órgãos. O coração não tem sangue, o estomago está perfurado, a medula foi torcida, o cérebro está cheio de areia, o fígado passou para o lado esquerdo, etc. São comuns nos estados neurastênicos, depressivos, nos delírios de negação, hipocondríaco, esquizofrenia, etc. f) Alucinações cinésicas – O paciente tem a impressão que seus braços se movem continuamente ou que está voando. Outras vezes há sensação de que não pode andar. Na “alucinação verbal e gráfica”, embora calado e parado, o doente tem a sensação dos movimentos necessários à articulação da palavra ou à execução da atividade gráfica. g) Alucinações do sentido muscular – Experimenta-se a sensação de que o solo se levanta ou de que o corpo, leve como uma pena, voa. Também há impressão falsa da posição do nariz ou do tamanho do braço. Outras vezes não sabe o paciente informar se está de pé ou deitado. São fenômenos que se observam nos esquizofrênicos e histéricos. h) Pseudo-alucinações – Resultam de atividade muito intensa da imaginação, em virtude da qual a imagem adquire o aspecto de percepção real. É comum, normalmente, depois de uma viagem a bordo, nos sentirmos, em terra, como se estivessemos navegando. Observa-se, por exemplo, como sintoma patológico, no delírio espírita episódico. SEMIOLOGIA DA PERCEPÇÃO O estudo da conduta pode nos orientar sobre a existência de desordem da percepção. Algumas vezes a atitude, a expressão fisionômica, a linguagem espontânea, são suficientes para denunciar a presença de uma alucinação. Esta, entretanto, só se revela, geralmente, no curso de uma conversação conduzida com habilidade. Durante a conversação deixa-se entender que se ouve alguma voz estranha, ou se vê alguma coisa de extraordinário. Outras vezes pergunta-se ao doente que está vendo ou que está ouvindo. A tarefa pode ser aliviada com o uso do questionário de Cimbal-Nágera. QUESTIONÁRIO DE CIMBAL-NÁGERA ALUCINAÇÕES AUDITIVAS 1. Você observou alguma coisa que não pode explicar? ALUCINAÇÕES VISUAIS 1. Você viu alguma coisa estranha ou que lhe tenha chamado a atenção? ALUCINAÇÕES OLFATIVAS E GUSTATIVAS 1. Você sentiu sabor ou odor desagradável na comida? ALUCINAÇÕES TÁTEIS 1. Você sente alguma coisa estranha em seu corpo? ALUCINAÇÕES CINÉSICAS 1. Você realizou movimento contra vontade? ALUCINAÇÕES DE LOCALIZAÇÃO ESPECIAL 1. Você sente como se o levantassem no espaço? | ||||
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Alucinação é a percepção real de um objeto que não existe, ou seja, são percepções sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável da pessoa que alucina em relação ao objeto alucinado, contudo muitas vezes esta vivência integra a um delírio mais ou menos coerente classificável em diferentes quadros psiquiátricos, incluindo a psicose, patologia psiquiátrica que, entre outros sinais e sintomas, se caracteriza pela perda de contato com a realidade. Entre possíveis causas das alucinações se incluem as reações à drogas e medicamentos,síndromes associadas ao stress, fadiga, perturbações do sono (especialmente sua privação), infecções (Febres) e entre as psicoses destacam-se a Paranóia e Esquizofrenia. Em psiquiatria, esse conceito foi introduzido por Esquiroll (1772-1840), como percepção sem objeto e já diferenciando esta da ilusão ou percepção distorcida. Sendo a percepção da alucinação de origem interna, emancipada de todas as variáveis que podem acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial, etc.), um objecto alucinado muitas vezes é percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato. Tipos de alucinação Estudos tem procurando reconhecer padrões recorrentes em cada um desses sentidos associado tais regularidades à características neurofisiológicas e psicopatológicas. A classificação mais usual, se baseia nos cinco órgãos de sentido, qualquer um deles pode ser afetado e a vivência alucinatória possui as características do que naturalmente pode ser percebido ou seja, com exceção da sinestesia, as referidas sensações obedecem as leis da organização perceptiva de cada receptor ou órgãos sensoriais. Contudo o conteúdo percebido não necessariamente corresponde à realidade e sim à imaginação e vivências já registradas na memória
Estudos têm procurando reconhecer padrões recorrentes nas alucinações e alterações em cada um desses sentidos associado tais regularidades à características neurofisiológicas e psicopatológicas. Referências Ballone GJ - Alucinação e Delírio - in. PsiqWeb 2005 Freud, S. A interpretação dos sonhos. Vol IV, (1900). RJ, Imago Luria, A. R. Curso de psicologia geral (v.2).RJ, Civilização brasileira (4 vol.)., 1979 Kolb, Lawrence. Psiquiatria Clínica. RJ, Interamericana, 1986 Paim, Isaias. Curso de Psicopatologia. SP, Grijalbo, 1976 Schilder, P. A imagem do Corpo, as energias construtivas da psique. SP, Martins Fontes, 1980 . |
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