20091213

Portões da Prática Budista (Chagdud Tulku Rinpoche)

seleção por: Marjorye

Trecho selecionado do capítulo 1 - "A Roda em Movimento" 

A mente é a fonte tanto do nosso sofrimento quanto da nossa felicidade. Pode ser usada de modo positivo, para criar benefícios ou de modo negativo, para criar malefícios. Embora a natureza fundamental de todos os seres seja uma pureza imortal, que existiu desde sempre, sem começo - o que chamamos natureza búdica - nós não reconhecemos essa natureza. Em vez disso, somos controlados pelos caprichos da mente ordinária, que vai para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, produzindo pensamentos bons e ruins, agradáveis e dolorosos. Nesse meio tempo, plantamos uma semente a cada pensamento, palavra e ação. Assim como é certo que cada semente de uma planta venenosa produz frutos venenosos e que uma planta medicinal cura, as ações maléficas produzem sofrimento e as ações benéficas, felicidade.

Nossas ações viram causas e, dessas causas, naturalmente, vêm resultados. Tudo que é colocado em movimento produz um movimento correspondente. Se você joga uma pedra em uma lagoa, formam-se ondulações em círculos, batem na margem e voltam. O mesmo se passa com o movimento dos pensamentos. Quando os resultados desses pensamentos retornam, sentimo-nos vítimas indefesas: "Estávamos inocentemente vivendo nossa vida...´por que todas essas coisas estão acontecendo conosco?" O que acontece é que as ondulações estão voltando para o centro. Isso é o carma. 

A mente ordinária é cheia de oscilações e turbulência. Se não há uma força que a controle e controle seus efeitos sobre o corpo e a fala, somos jogados para cima e para baixo, para frente e para trás: nossa realidade parece um passeio de montanha russa. Na verdade, é mais parecida ao girar de uma roda. Pomos uma roda em movimento e, a cada vez que reagimos, damos novo impulso a ela, ficando presos em seu movimento perpétuo. Dessa forma, nossa experiência da realidade continua a girar em ciclos, com todas as suas variações, vida após vida. Assim, é interminável o samsara, a existência cíclica. Não compreendemos que estamos vivenciando resultados que nós mesmos criamos e que nossas reações produzem ainda mais causas, mais resultados - incessantemente. 

Pelo fato de termos sido nós mesmos que armamos a enrascada em que nos encontramos, cabe a nós mudá-la. Uma pessoa que esteja com o cabelo embaraçado e oleoso e olhe em um espelho, não irá conseguir limpar a sua imagem esfregando o espelho. Uma pessoa que tenha uma disfunção biliar terá uma percepção distorcida da cor: verá uma superfície branca - quer seja uam montanha nevada, a distância, ou um pedaço de pano branco - como sendo amarelada. O único modo de corrigir a visão defeituosa é curar a doença. Tentar alterar o ambiente externo não trará resultado algum. 

Algumas pessoas pensam que o remédio para o sofrimento está nas mãos de Deus ou Buda, em algum lugar externo a elas. Mas as coisas não são assim. O próprio Buda disse a seus discípulos, "Eu lhes mostrei o caminho que leva à liberdade. Seguir por esse caminho é algo que depende de vocês". 

A mente, quando usada de modo positivo - para gerar compaixão, por exemplo - é capaz de criar grandes benefícios. Pode parecer que esses benefícios vêm de Deus ou Buda, mas são simplesmente o resultado das sementes que plantamos. Embora com os ensinamentos de Buda recebamos a chave do conhecimento que nos permite transformar, pacificar e treinar a nossa mente, somente nós podemos descerra sua verdade mais profunda, expondo nossa natureza búdica e suas capacidades ilimitadas.

Nossas experiências atuais na vida são de relativa boa sorte. Muitos são os que experimentam 
sofrimento muito pior que o nosso. Assolados pelas dores implacáveis da guerra doença e fome, não têm meios para mudar sua situação; parece não haver saída. 

Ao contemplarmos as dificuldades em que essas pessoas se encontram, a compaixão brota em nosso coração. Ganhamos inspiração para não desperdiçarmos nossas circunstâncias bem-afortunadas, mas sim, usá-las para criar benefícios para nós mesmos e para os outros - benefícios que estejam além da felicidade provisória que vem e vai, além dos ciclos infindáveis do sofrimento samsárico. Somente ao revelar por inteiro a natureza verdadeira da mente - ao alcançar a iluminação - podemos encontrar felicidade duradoura e ajudar os outros a fazer o mesmo. 

Essa é a meta do caminho espiritual. 



Capítulo 2 - "O Trabalho com o Apego e o Desejo"

Para compreender como surge o sofrimento, pratique observar a sua mente. Comece simplesmente deixando-a relaxar. Sem pensar no passado nem no futuro, sem sentir esperança nem medo em relação a isto ou aquilo, deixe que ela repouse confortavelmente, aberta e natural. Nesse espaço da mente não há problemas, não há sofrimento. Então, alguma coisa prende sua atenção - uma imagem, um som, um cheiro. Sua mente se subdivide em interno e externo, "eu" e "outro", sujeito e objeto. Com a simples percepção, não há ainda nenhum problema, mas, quando você se concentra no objeto, nota que é grande ou pequeno, branco ou preto, quadrado ou redondo. Então, você faz um julgamento - por exemplo, se o objeto é bonito ou feio. Tendo feito esse julgamento, você reage a ele: decide se gosta ou não do objeto. 

É aí que o problema começa, pois "Eu gosto disto" conduz a "Eu quero isto". Igualmente, "Eu não gosto disto" conduz a "Eu não quero isto". Se gostamos de alguma coisa, se a queremos e não podemos tê-la, nós sofremos. Se a queremos, a obtemos e depois a perdemos, nós sofremos. Se não a queremos, mas não conseguimos mantê-la afastada, novamente sofremos. Nosso sofrimento parece ocorrer por causa do objeto do nosso desejo ou aversão, mas realmente não é assim - ele ocorre porque a mente se divide na dualidade sujeito-objeto e fica envolvida com querer ou não querer alguma coisa. 

Com frequência, pensamos que o único meio de criar a felicidade é tentando controlar as circunstâncias externas da nossa vida, tentando consertar o que nos parece errado ou nos livrar de tudo que é incômodo. Mas o verdadeiro problema encontra-se em nossa reação a essas circunstâncias. O que temos que mudar é a mente e a maneira como ela vivencia a realidade. 
Nossas emoções nos empurram de um extremo a outro: da excitação para a depressão, de experiências boas para ruins, da felicidade para a tristeza - um constante ir e vir. O emocionalismo é um subproduto da esperança e do medo, do apego e da aversão. Temos esperança porque estamos apegados a alguma coisa que queremos. Temos medo porque temos aversão a alguma coisa que não queremos. 

À medida que seguimos as emoções, reagindo às nossas experiências, criamos carma - um movimento perpétuo que inevitavelmente determina o nosso futuro. Precisamos interromper as oscilações extremadas do pêndulo emocional para podermos encontrar um eixo de equilíbrio. 

Quando começamos pela primeira vez nosso trabalho com as emoções, aplicamos o princípio de que o ferro corta o ferro, o diamante corta o diamante. Usamos os pensamento para transformar o pensamento. Um pensamento raivoso pode ter como antídoto um outro que seja compassivo, ao passo que o desejo pode ter seu antídoto na contemplação da impermanência. 
No caso do apego, comece examinando o que é o objeto ao qual você está apegado. Por exemplo, pode ser que, depois de muito esforço, você consiga se tornar famoso, pensando que isso o fará feliz. Então, sua fama provoca inveja em alguém que tenta matá-lo. Aquilo que você trabalhou tanto para criar passa a ser a causa do seu sofrimento. 

Pode ser que você trabalhe com afinco para se tornar rico, pensando que isso lhe trará felicidade, para então ver todo o dinheiro se perder. A perda da riqueza em si não é a causa do sofrimento, mas, sim, o apego à sua posse. 

Podemos reduzir o apego contemplando a impermanência. É certo que o objeto ao qual estamos apegados, seja qual for, irá mudar ou se perder. Uma pessoa talvez morra ou vá embora, um amigo pode se tornar inimigo, um ladrão pode roubar seu dinheiro. Mesmo nosso corpo, ao qual estamos apegados em grau máximo, irá embora um dia. Saber disso não só ajuda a diminuir o apego, como também nos proporciona maior apreciação das coisas que temos, enquanto as temos. Por exemplo, não há nada de errado com o dinheiro em si, mas, se nos apegarmos a ele, sofremos quando o perdemos. Em vez disso, podemos apreciá-lo enquanto durar, desfrutar dele e ter prazer em compartilhá-lo com os outros, sabendo, ao mesmo tempo, que ele é impermanente. Então, quando o perdemos, o pêndulo emocional não fará um movimento tão largo em direção à tristeza. 

Imagine duas pessoas que compram o mesmo tipo de relógio, no mesmo dia, na mesma loja. A primeira pessoa pensa, “Este relógio é muito bonito. Vai me ser útil, mas pode ser que não dure muito tempo”. 

A segunda pessoa pensa, “Este é o melhor relógio que já tive. Aconteça o que acontecer, não posso perdê-lo nem deixar que se quebre”. Se ambas as pessoas perderem seu relógio, aquela que está apegada ficará muito mais contrariada do que a outra. 

Se somos enganados pela vida e depositamos grande valor em uma coisa ou outra, podemos nos pegar lutando por aquilo que queremos, opondo-nos a tudo e a todos. Podemos pensar que aquilo por que lutamos é duradouro, verdadeiro e real, mas não é. É impermanente, não é verdadeiro, não é duradouro e, em última análise, sequer é real. 

Nossa vida pode ser comparada a uma tarde em um shopping Center. Andamos pelas lojas, conduzidos por nossos desejos, pegando coisas das prateleiras e as jogando em nossas cestas. Passeamos de um lado para o outro, olhando tudo, querendo e desejando. Sorrimos para uma ou duas pessoas e seguimos adiante para nunca mais vê-las. 

Impelidos pelo desejo, deixamos de apreciar e valorizar aquilo que já temos. Precisamos nos dar conta de que o tempo que temos com aqueles que nos são caros – nossos amigos, nossos parentes, nossos colegas de trabalho -, é muito curto. Mesmo se vivêssemos até cento e cinqüenta ano, isso seria muito pouco para desfrutar da nossa oportunidade humana e fazermos uso dela. 

Aqueles que são jovens pensam que sua vida será longa, e os velhos pensam que a vida terminará logo. Mas não podemos pressupor essas coisas. Nossa vida vem com uma data de expiração embutida. Há muitas pessoas fortes e saudáveis que morrem jovens, enquanto muitos que são velhos, doentes e debilitados continuam vivendo dia após dia. Sem saber quando iremos morrer, precisamos cultivar apreciação e aceitação das coisas que temos, enquanto as temos, em vez de ficarmos procurando defeitos em nossas experiências e buscarmos, incessantemente, preencher nossos desejos. 

Se começamos a nos preocupar se o nosso nariz é grande ou pequeno demais, deveríamos pensar, “E se eu não tivesse cabeça – isso sim seria um problema!” Enquanto tivermos vida, deveríamos nos regozijar. Se nem tudo sai exatamente como gostaríamos, podemos aceitar isso. Se contemplarmos a impermanência em profundidade, a paciência e a compaixão irão surgir. Nos apegaremos menos à verdade aparente das nossas experiências e a nossa mente se tornará mais flexível. Aos nos darmos conta que um dia este corpo vai ser enterrado ou cremado, vamos nos regozijar com cada momento que tivermos, em vez de fazermos infelizes a nós mesmo ou aos outros. 

Agora vivemos contaminados pela infecção do “eu-meu”, uma doença causada pela ignorância. Nossa atitude autocentrada e nossos pensamentos de auto-importância tornaram-se hábitos muito fortes. A fim de mudá-los, precisamos alterar o nosso foco. Em vezes de ficarmos preocupados com o “eu” todo o tempo, devemos redirecionar a atenção para “você” ou “ele” ou “os outros”. Com a redução da auto-importância, diminui também o apego resultante. Quando tiramos de nós mesmos o foco de nossa atenção, somos levados, ao final, a compreender a igualdade que há entre nós e todos os demais seres. Todos querem ter felicidade: ninguém quer sofrer. O apego à nossa própria felicidade amplia-se para se tornar um apego à felicidade de todos. 

Até agora nossos desejos tenderam a ser muito superficiais, egoístas e imediatistas. Se tivermos que querer algo, então que seja nada menos do que a completa iluminação de todos os seres. Eis aí algo digno de ser desejado. Recordarmo-nos sempre do que verdadeiramente vale a pena querer é um importante elemento da prática espiritual. 

Desejo e apego não mudam da noite para o dia. O desejo, porém, torna-se menos comum à medida que redirecionamos nossos anseios mundanos para a aspiração de fazer tudo o que está ao nosso alcance para ajudar todos os seres a encontrar felicidade permanente. Não temos que abandonar os objetos habituais dos nossos desejos – relacionamentos, riqueza, fama – mas, na medida em que contemplamos sua impermanência, ficamos menos apegados a eles. Se temos a atitude de nos regozijar com a nossa sorte quando eles aparecem e, ao mesmo tempo, reconhecemos que não irão durar, começamos a desenvolver qualidades espirituais. Cometemos, em menos número, os atos nocivos que resultam do apego e, assim, criamos menos carma negativo; geramos mais carma favorável, aumentando gradativamente as qualidades positivas da mente. 

Com o tempo, conforme a nossa prática de meditação amadurece, podemos tentar algo diferente de usar o pensamento para transformar o pensamento: podemos usar uma abordagem que revele a natureza mais profunda das emoções no momento em que estas surgem. 

Se você estiver no meio de um ataque de desejo – alguma coisa prendeu sua mente e você precisa tê-la – não conseguirá se livrar do desejo tentando reprimi-lo. Em vez disso, você pode olhar através do desejo, começando a examinar o que ele é. Quando o desejo aparece na mente, pergunte-se, “De onde ele vem? Onde permanece? Será que pode ser descrito? Será que tem cor, forma ou contorno? Quando desaparece, para onde vai?”

Esta é uma situação interessante. Você pode dizer que o desejo existe, mas, se buscar pela experiência, não consegue tocá-la com as mãos. Por outro lado, se disser que ele não existe, estará negando o fato óbvio de estar sentindo desejo. Você não pode dizer que existe, nem pode dizer que não existe. Você não pode dizer que valem “ambas” as coisas ou “nenhuma” delas, que o desejo tanto existe quanto não existe, ou que nem existe, nem não existe. Esse é o significado da natureza verdadeira do desejo, além dos extremos da mente conceitual. 

É nossa incapacidade de compreender a natureza essencial de uma emoção, quando ela surge, que nos coloca em dificuldades. Uma vez que consigamos fazer isso, a emoção tende a se dissolver. Então, não estaremos reprimindo nem incentivando. Estaremos simplesmente olhando com clareza para o que ocorre. Se deixarmos de lado um copo com água turva por algum tempo, a água vai se assentar por si só e ficar transparente. Em vez de julgarmos a experiência do desejo, olhamos diretamente para a sua natureza, o que se chama “libertá-lo em sua própria base”. 

Cada uma das emoções negativas ou venenos mentais possui uma pureza intrínseca que não reconhecemos por estarmos tão acostumados à sua aparência de emoção. A natureza verdadeira dos cinco venenos – ignorância, apego, aversão, inveja e orgulho – são as cinco sabedorias. Da mesma forma que um veneno pode ser ingerido como remédio para se obter a cura, cada veneno da mente, se trabalhado adequadamente, pode ser remetido à sua natureza de sabedoria e, assim, incrementar nossa prática espiritual. 
Se, em meio à intensidade do desejo, você simplesmente relaxar, sem remover sua atenção, aquele espaço da mente chama-se a sabedoria discriminativa. Você não abandona o desejo – antes, revela sua natureza de sabedoria.



Capítulo 3 – “O Trabalho com a Raiva e a Aversão”

O APEGO E A RAIVA são dois lados da mesma moeda. Por causa da ignorância e da divisão da mente na dualidade sujeit-objeto, nos agarramos a coisas que percebemos como externas a nós, ou então tentamos nos afastar delas. Quando encontramos algo que desejamos e que não podemos conseguir; ou quando alguém nos impede de alcançar aquilo que dissemos a nós mesmos que precisávamos ter; ou quando acontece algo que não se ajusta à maneira como gostaríamos que as coisas fossem, sentimos raiva, aversão ou ódio. Essas respostas, porém, não trazem benefício algum; elas apenas prejudicam. Com a raiva, e também com o apego e a ignorância – os três venenos da mente – geramos carma sem fim, sofrimento sem fim. 

Diz-se que não há mal que se compare à raiva: por sua própria natureza, a raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade jamais nasce dela, a raiva é uma das potentes forças negativas.

A raiva e a aversão podem levar à agressão. Quando prejudicadas, muitas pessoas sentem que devem retaliar, cobrando olho por olho. É uma resposta natural. “Se alguém me xinga, dou o troco e xingo também. Se alguém me dá um soco, leva outro de volta. É o que a pessoa merece”. Ou, ainda pior: “Esse indivíduo é meu inimigo. Se eu o matar, vou ficar feliz!”

Não damos conta que, se temos tendência à aversão e à agressão, os inimigos começam a aparecer por todos os lados. Encontramos cada vez menos coisas para gostar nos outros e cada vez mais coisas para odiar. As pessoas começam a nos evitar e ficamos mais isolados e solitários. Às vezes, enfurecidos, cuspimos palavras ásperas e ofensivas. Os tibetanos têm um ditado: “As palavras podem não carregar armas, mas ferem o coração”. Nossas palavras pode ser extremamente danosas, tanto pelo mal que causam aos outros quanto pela raiva que despertam. Com freqüência, estabelece-se um ciclo: uma pessoa sente aversão por outra e diz alguma coisa que a fere; a outra pessoa reage, dizendo algo fora do esquadro. As duas começam a pôr lenha na fogueira uma da outra, até que estejam travando uma batalha de palavras iradas. Sem dúvida, isso pode ser transposto para o nível nacional e internacional, onde grupos de pessoas se envolvem em agressão contra outros grupos e nações são jogadas contra nações. 

Quando você deixa a aversão e a raiva tomarem conta de você, é como se, tendo decidido matar uma pessoa jogando-a em um rio, você se agarrasse ao pescoço dela, pulasse na água e os dois morressem afogados. Ao destruir seu inimigo, você também se destrói. 

É muito melhor dissipar a raiva antes que ela possa conduzir a um conflito maior, respondendo a ela com a paciência. Compreender a responsabilidade que temos por aquilo que nos acontece ajuda a fazer isso. Tratamos nossa ligação com alguém que percebemos como um inimigo como se saída do nada. Mas, em alguma existência passada, talvez tenhamos usado palavras duras com aquela pessoa, maltratando-a fisicamente ou abrigando pensamentos raivosos em relação a ela. Em vez de procurarmos os defeitos dos outros, dirigindo nossa raiva e aversão contra situações que pensamos estar no ameaçando, deveríamos lidar com o verdadeiro inimigo. Esse inimigo, que destrói nossa felicidade a curto prazo e nos impede, em uma perspectiva mais longa, de alcançar a iluminação é a nossa própria raiva e aversão. Se a vencermos, não haverá mais brigas, pois deixaremos de perceber como inimigos os nossos oponentes – um grande retorno por pouco esforço. Tanto nós quanto eles teremos cada vez menos probabilidades de reincidir em situações que possam levar a um conflito. Todos saem ganhando. 

Nossa tendência habitual é fazer contemplação, mas de maneira contraproducente. Se alguém nos insulta, geralmente ficamos remoendo o assunto, perguntamo-nos, “Por que ele me disse isso?”, vez após vez. É como se tivesse atirado uma flecha contra nós, mas o tiro saísse curto. Concentramo-nos no problema é como apanharmos a flecha e cravá-la em nosso peito repetidas vezes dizendo, “Ele me magoou tanto. Não consigo acreditar que fez isso”. 

Um outra opção é usar o método da contemplação para refletir sobre as coisas de modo diferente, para modificar nosso hábito de reagir com raiva. 

De início, como é difícil pensar com clareza em meio a uma discussão, começamos a praticar em casa, sozinhos, imaginando confrontos e novas formas de responder a eles. Imagine, por exemplo, que uma pessoa o insulte. Ela está enojada de você, dá-lhe um tapa ou ofende você de algum modo. Você pensa, “O que devo fazer? Vou me defender – vou retaliar. Vou expulsar essa pessoa da minha casa”. Agora, experimente outra atitude. Diga a si mesmo, “Essa pessoa me deixa com raiva. Mas o que é raiva? É um dos venenos da mente que gera carma negativo e leva sofrimento intenso. Contrapor raiva à raiva é como ir atrás de um louco que pula de um precipício. Será que tenho que fazer o mesmo? Se é insano da parte dele agir como age, é ainda mais insano da minha parte agir do mesmo modo”.

Lembre-se de que aquelas pessoas que agem de forma agressiva com relação a você estão apenas comprando o próprio sofrimento, criando, por ignorância, condições mais difíceis para si mesmas. Pensam estar fazendo o que é melhor para si, estar corrigindo algo errado ou impedindo que o pior aconteça. Mas a verdade é que esse comportamento não traz benefício algum. Em muitos aspectos, é como alguém que está com dor de cabeça e bate na própria cabeça com um martelo para tentar parar a dor. Em sua infelicidade, põe a culpa nos outros, os quais, por sua vez, ficam com raiva e brigam, apenas piorando a situação. Quando consideramos a condição difícil em que se encontram, damo-nos conta de que essas pessoas deveriam ser objeto de nossa compaixão, e não de raiva ou crítica. Então aspiramos fazer tudo o que está ao nosso alcance para protegê-las de mais sofrimento, como faríamos com uma criança que sempre se mete em travessuras, fugindo o tempo todo para a rua e que nos bate e arranha quando tentamos trazê-la de volta. Em vez de desistirmos daqueles que agem mal, precisamos compreender que estão procurando a felicidade, mas não sabem como encontrá-la. O papel de inimigo não é permanente. A pessoa que o fere hoje pode se ternar seu melhor amigo amanhã. O seu inimigo de hoje pode mesmo ter sido, em uma vida passada, a pessoa que lhe deu à luz, a mãe que alimentou e cuidou de você. Ao contemplarmos esses aspectos desse modo e repetidamente, aprendemos a reagir à agressão com compaixão e a responder à raiva com bondade.

Um outro método que podemos empregar é ganhar consciência da qualidade ilusória da nossa raiva e do objeto da nossa raiva. Se, por exemplo, alguém lhe diz, “Você é um indivíduo mau”, pergunte-se, “Será que isso me faz ser mau? Se eu fosse um indivíduo mau e alguém dissesse que eu era bom, isso faria de mim um indivíduo bom?” Se alguém diz que carvão é ouro, ele passa a ser ouro? As coisas não se transformam apenas porque alguém diz isto ou aquilo. Por que levar essas palavras tão a sério?

Sente-se em frente de um espelho, olhe para sua imagem e insulte-a: “Você é feio. Você é mau.” Em seguida, elogie-a: “Você é bonito.Você é bom.” Independentemente do que você diga, a imagem permanece simplesmente o que ela é. Elogios e críticas não detém poder algum de nos ajudar ou prejudicar. 

À medida que praticamos desse modo, começamos a compreender que as coisas são desprovidas de solidez, como um sonho ou uma ilusão. Criamos um estado mental mais espaçoso – um estado que não é tão reativo. Então, quando a raiva aparece, em vez de responde imediatamente, podemos olha para ela e perguntar: “O que é isso?O que está me fazendo ficar vermelho e tremer? Onde está?” O que descobrimos é que a raiva não tem substância, que não é uma coisa que possa ser encontrada.

Assim que nos damos conta de que não conseguimos encontrar a raiva, podemos deixar a mente em repouso. Não reprimimos a raiva. Apenas deixamos a mente repousar em meio a ela. Podemos ficar com a própria energia – simples e naturalmente, permanecendo cientes dela, sem apego e aversão. Então constatamos que a raiva, assim como o desejo, na realidade não é o que pensávamos ser. Começamos a ver sua natureza e a compreender a sua essência, que é a sabedoria semelhante ao espelho. 

Fazer isso pode soar fácil, mas não é. A raiva nos estimula e nós voamos – de um jeito ou de outro. Voamos em nossa mente, voamos para um julgamento, voamos para uma reação, voamos para isto ou aquilo, nos envolvendo com o que nos contrariou. Nosso hábito de revidar dessa forma vem sendo reforçado vez após vez, vida após vida. Se nossa compreensão da essência da raiva for apenas superficial, vamos verificar que não seremos capazes de aplicá-la a situações da vida real. 

Há um famoso conto folclórico tibetano sobre um homem que estava meditando em retiro. Alguém veio vê-lo e perguntou, “Em que você está meditando?”
“Na paciência”, disse ele.
“Você é um idiota!”
Isso deixou o meditador furioso e ele imediatamente começou uma discussão – o que mostrou exatamente quanta paciência ele tinha. 

Somente pela aplicação sistemática e contínua desses métodos, dia após dia, mês após mês, ano após ano, é que conseguiremos dissolver nossos hábitos arraigados. O processo pode levar algum tempo, mas nós, sem dúvida, iremos mudar. Veja com que rapidez mudamos em termos negativos. Estamos felizes e, então, alguém diz ou faz algo, e logo ficamos irritados. Mudar de modo positivo requer disciplina, esforço e paciência. A palavra “meditação” em tibetano (gom), vem da mesma raiz do verbo “familiarizar-se” ou “aclimatar-se”. Utilizando vários métodos, nós nos familiarizamos com outros modos de ser. 

Há uma expressão: “Até um elefante pode ser domado de diferentes maneiras.” Quando ferrões e ganchos são empregados com habilidade, esse animal enorme e potente pode ser conduzido com bastante delicadeza. Diz-se que quando os elefantes são enfeitados para ocasiões festivas, tornam-se dóceis, caminhando como se pisassem sobre ovos. Ou, se estão no meio de um multidão, os elefantes deixam-se facilmente controlar. Portanto, uma coisa que é grande e pesada pode, com os meios adequados, vir a ser manipulada satisfatoriamente. Do mesmo modo, a mente, muitas vezes insubmissa e tempestuosa, pode ser pacificada com meios hábeis. 
A diferença entre como uma pessoa mundana encara a vida e como um praticante espiritual o faz, está em que aquela sempre olha para os fenômenos como se olhasse através de uma janela, julgando a experiência externa; ao passo que este usa a experiência como um espelho para, repetidamente, examinar sua própria mente em minucioso detalhe – para determinar onde se encontram os pontos fortes e os fracos, como cultivar os primeiros e eliminar o últimos. 

Não precisamos de uma vidente para nos dizer qual vai ser a nossa experiência no futuro – precisamos apenas olhar para a nossa própria mente. Se temos um bom coração e a intenção de ajudar os outros, estaremos encontrando felicidade continuamente. Se, ao contrário, a mente estiver preenchida por pensamentos autocentrados e mundanos, ou com raiva e intenções maldosas em relação aos outros, estaremos encontrando apenas experiências difíceis. 

Se examinarmos a nossa mente, vez após vez, continuamente aplicando antídotos para os venenos que surgem, iremos lentamente ver mudanças. Apenas nós mesmos podemos realmente saber o que está acontecendo em nossa mente. É fácil mentir para os outros. Podemos fingir que um saco de couro grosso está cheio, mas assim que alguém se sente sobre ele saberá se está cheio de fato. 

De igual modo, podemos nos sentar por horas na postura de meditação, mas, se pensamentos vindos dos venenos circulam pela mente o tempo todo, estaremos apenas fingindo fazer prática espiritual. Em lugar disso, podemos ser honestos conosco mesmos, assumindo a responsabilidade pelo que vemos em nossa mente, em vez de julgar os outros, e aplicando o corretivo apropriado para mudar.

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