"Preguiçosa e indiferente, vibrando facilmente o espaço com suas asas, conhecendo seu rumo, a garça sobrevoa a igreja por baixo do céu. Branca e distante, absorta em si mesma, percorre e volta a percorrer o céu, avança e continua. Um lago? Apaguem suas margens! Uma montanha? Ah, perfeito - o sol doura-lhe as margens. Lá ele se põe. Samambaias, ou penas brancas para sempre e sempre.
Desejando a verdade, esperando-a, laboriosamente vertendo algumas palavras, para sempre desejando - (um grito ecoa para a esquerda, outro para a direita. Carros arrancam divergentes. Ônibus conglomeram-se em conflito) para sempre desejando - (com doze batidas eminentes, o relógio assegura ser meio-dia; a luz irradia tons dourados; crianças fervilham) - para sempre desejando a verdade. O domo é vermelho; moedas pendem das árvores; a fumaça arrasta-se das chaminés; ladram, berram, gritam "Vende-se ferro!" - e a verdade?
Radiando para um ponto, pés de homens e pés de mulheres, negros e incrustados a ouro - (Este tempo nublado - Açúcar? Não, obrigado - a comunidade do futuro) - a chama dardejando e enrubescendo o aposento, exceto as figuras negras com seus olhos brilhantes, enquanto fora um caminhão descarrega, Miss Fulana toma chá à escrivaninha e vidraças conservam casacos de pele.
Trêmula, leve-folha, vagueando nos cantos, soprada além das rodas, salpicada de prata, em casa ou fora de casa, colhida, dissipada, desperdiçada em tons distintos, varrida para cima, para baixo, arrancada, arruinada, amontoada - e a verdade?
Agora recolhida pela lareira, no quadrado branco de mármore. Das profundezas do marfim ascendem palavras que vertem seu negrume. Caído o livro; na chama, no fumo, em momentâneas centelhas - ou agora viajando, o quadrado de mármore pendente, minaretes abaixo e mares indianos, enquanto o espaço investe azul e estrelas cintilam - verdade? Ou agora, consciente da realidade?
Preguiçosa e indiferente, a garça retoma; o céu vela as estrelas; e então as revela."
VIRGINIA WOOLF (1882-1941)
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extenda-se!